Um dado preocupante acaba de ser divulgado pelo Ministério da Educação para 2024: menos da metade das crianças até o 2º ano do Ensino Fundamental foi alfabetizada nas três maiores cidades da Bahia — Salvador, Feira de Santana e Vitória da Conquista. Conforme o Indicador Criança Alfabetizada, Salvador amarga um índice assustador de apenas 36,75%, a pior entre as capitais brasileiras, ficando na 182ª colocação geral entre os 417 municípios baianos. Feira de Santana não fica muito atrás, registrando 33,19% e aparecendo na 230ª posição, enquanto Vitória da Conquista, com 42,75%, ocupa o 107º lugar.

Para o especialista em Educação, Basilon Carvalho, mestre em Ciências da Informação pela UFBA e Educação de Jovens e Adultos pela UNEB, o quadro não deve ser atribuído a um único "vilão". Segundo ele, os professores baianos são dedicados, mas enfrentam enormes dificuldades, principalmente devido à falta de pagamento do piso salarial, que muitos municípios descumprem. Carvalho ressalta que, sem um salário digno e estrutura adequada, educadores lutam para alfabetizar em meio a condições precárias e sem apoio familiar, o que compromete todo o processo.

"Não existe um só culpado, mas as gestões municipais têm papel fundamental. O professor precisa ser valorizado, remunerado conforme a lei e ter suporte pedagógico e físico para realizar seu trabalho. A interação entre escola e família é decisiva: a escola não pode carregar sozinha toda a responsabilidade, e os pais precisam participar ativamente para que a alfabetização faça sentido para a criança", afirma o educador, que destaca ainda a importância de avaliações diagnósticas e de repensar excessos curriculares em prol de métodos mais eficientes.

Sobre o motivo de municípios menores, apesar de orçamentos menores, alcançarem melhores índices, Basilon destaca a proximidade entre família e escola. "Nas pequenas cidades, os pais acompanham mais de perto a vida escolar dos filhos, diferente das metrópoles onde a rotina agitada impede uma relação mais próxima. Essa parceria é fundamental para que a alfabetização avance e se solidifique." A reflexão fica no ar: sem união entre famílias, escolas e professores, a Bahia corre o risco de seguir amargando esses números preocupantes que comprometem o futuro de suas crianças.