Em 2022, a Bahia registrou 24 graves casos de tráfico de pessoas, segundo levantamento oficial do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Porém, esses números são apenas a ponta do iceberg em um cenário marcado por violência e exploração cruel, que se divide principalmente entre o trabalho análogo à escravidão e a exploração sexual. De forma alarmante, as principais vítimas são negras e de baixa escolaridade: meninas e mulheres de 11 a 35 anos sofrem exploração sexual, enquanto meninos e homens jovens são forçados ao trabalho escravo, conforme dados do Ministério Público do Trabalho (MPT-BA).

Salvador desponta como epicentro das denúncias, concentrando 24,1% dos relatos de tráfico de crianças e adolescentes ao Disque 100 entre 2012 e 2019, seguida por Feira de Santana e Ilhéus. A vasta maioria das denúncias, 77,6%, envolve trabalho escravo, com 22,4% relacionados à exploração sexual comercial. Curiosamente, a cidade de Poções, próxima a Vitória da Conquista, atua como rota principal de saída para pessoas traficadas do estado, revelando a complexidade e amplitude dessa rede criminosa.

Nos últimos cinco anos, a Bahia tornou-se o terceiro estado do país em número de vítimas resgatadas do trabalho escravo, com 1.605 libertados, atrás apenas de Minas Gerais e Maranhão, segundo dados do Smartlab, parceria entre o MPT e a Organização Internacional do Trabalho. A história de Luiz Henrique Neto encapsula essa dura realidade: em janeiro de 2023, ele deixava a Bahia rumo ao Rio Grande do Sul, em busca de emprego, mas foi resgatado após quase dois meses sob condições desumanas. Hoje, Luiz é um ativista e atua no Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (NETP), transformando sua dor em combate à exploração.

Também preocupam os 960 pontos de vulnerabilidade à exploração sexual comercial de crianças e adolescentes identificados pela Bahia em rodovias federais, com destaque para Barreiras, que lidera com 91 locais críticos. As rodovias BR-116, BR-101, BR-020 e BR-324 concentram os maiores riscos, conforme o projeto MAPEAR. A Polícia Rodoviária Federal intensifica a fiscalização nestes trechos, enquanto especialistas alertam para a necessidade urgente de educação em direitos humanos e maior engajamento público na luta contra esse crime silencioso e brutal.