Uma batalha judicial histórica está prestes a sacudir Canudos, no norte da Bahia. A Prefeitura da cidade, liderada pelo prefeito Jilson Cardoso, ao lado do advogado Paulo José de Menezes, acionou a Justiça contra a União, exigindo uma indenização bilionária de R$ 300 milhões. O motivo? Reparar os danos deixados pelo brutal massacre da Guerra de Canudos, em 1897, um capítulo cruel que vem sendo chamado de genocídio.
Na ação civil pública, o conflito é retratado como uma violência planejada, com relatos chocantes de execuções em massa de civis e testemunhas que denunciam graves violações de direitos humanos. A destruição completa da comunidade, então conhecida como Belo Monte, liderada pelo beato Antônio Conselheiro, é alvo da reivindicação, reafirmando o pedido de reconhecimento oficial do episódio como um massacre histórico.
O historiador Bruno Mendes, ouvido pelo programa Levante a Voz, destaca que as feridas abertas naquela época continuam a sangrar para a população local. Segundo ele, a República nascente buscou eliminar qualquer resistência política e social, rotulando os canudenses como fanáticos e traidores para justificar a violência extrema. Mendes também denuncia o preconceito da época, que justificou a desumanização dos sertanejos por meio de teorias eugênicas, como a macabra análise do corpo de Antônio Conselheiro feita por um médico influenciado por essas ideias, que cortou e expôs sua cabeça para estudos científicos.
Curiosamente, o próprio mito da morte de Antônio Conselheiro pelas mãos do Exército é desmentido pelo historiador: o líder religioso teria morrido de diarréia, como mostra uma rara fotografia do seu corpo, e relatos do jornalista Euclides da Cunha, que cobriu a guerra e registrou as condições reais da luta no icônico livro “Os Sertões”. Agora, a União precisa responder ao pedido de reparação que promete reabrir um capítulo sombrio e doloroso da história brasileira.