Na Bahia, a cidade de Canudos está prestes a virar o palco de uma batalha judicial sem precedentes. Liderada pelo prefeito Jilson Cardoso de Macedo (PSD) e pelo advogado Paulo José de Menezes, a prefeitura entrou com uma ação civil pública contra a União, exigindo indenização milionária e políticas públicas para reparar as consequências do massacre ocorrido durante a Guerra de Canudos, em 1897. O município desafia oficialmente a história ao definir o episódio não como uma guerra, mas como um genocídio orquestrado.
Documentos acessados pela reportagem revelam depoimentos chocantes, como o do médico Martins Horcades, que relatou prisioneiros sendo degolados “para poupar munição”, e as duras palavras do jurista Rui Barbosa, que condenou o caso como “o mais negro borrão da nossa história”. A ação denuncia a destruição total da vila de Belo Monte – hoje Canudos – onde milhares de camponeses foram executados em um caos de violência sem precedentes, sob o comando das forças republicanas.
O processo sustenta que o Brasil violou gravemente os direitos humanos, baseando-se na Declaração Universal dos Direitos Humanos, no Pacto de San José e no princípio fundamental da dignidade da pessoa humana, previsto na Constituição Federal. Ainda expõe a brutalidade de quatro expedições militares lançadas sem direito a defesa ou investigação, conforme descreveu Euclides da Cunha, ressaltando a resistência heroica e trágica dos moradores locais.
A ação, jurídica na 1ª Vara Federal de Feira de Santana, cobra R$ 300 milhões em reparações e a implementação de um amplo programa de desenvolvimento social na região. Entre as reivindicações estão hospitais, universidades, museus e incentivos educacionais como cotas e bolsas para descendentes. O prefeito Jilson Cardoso, em entrevista, reforça o peso simbólico da luta: “Há 128 anos fomos apagados do mapa. Agora lutamos para resgatar nossa dignidade”. O advogado Paulo Menezes espera que o presidente Lula participe da audiência de conciliação, marcada para os próximos meses, como gesto de apoio à causa nordestina.