Em depoimento explosivo ao Supremo Tribunal Federal (STF), o coronel Márcio Nunes de Resende classificou como um “silêncio ensurdecedor” a falta de reação do Exército frente ao acampamento golpista montado em frente ao quartel da força após as eleições de 2022. O militar é um dos réus no núcleo 3 da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre a trama conspiratória que ameaçou a democracia.

Interrogado pelo juiz Rafael Tamai — auxiliar do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso —, Resende foi acusado de participar de uma reunião secreto das Forças Especiais do Exército, conhecidas como "kids pretos". O encontro, que teria discutido uma carta para pressionar o Alto Comando do Exército a apoiar o golpe, ocorreu em novembro de 2022 e entrou na mira da investigação. Durante a audiência, porém, o coronel denunciou a omissão da própria instituição diante do acampamento e pediu um posicionamento firme para proteger a imagem das Forças Armadas.

Ao ser questionado sobre o propósito da reunião, Resende tentou minimizar o episódio, alegando que tudo não passava de uma confraternização informal entre amigos, realizada em um salão de festas cedido por seu pai. O coronel negou qualquer conhecimento sobre a tal carta golpista, reforçando que não havia pauta ou organização formal no evento. Mesmo assim, o cerne da denúncia permanece sob forte escrutínio.

Hoje, o STF continua o interrogatório de nove militares ligados ao núcleo 3 da trama, inclusive integrantes do Batalhão das Forças Especiais, e um policial federal. Entre as acusações, estão o planejamento de “ações táticas” para viabilizar o golpe, que incluíam até o monitoramento do ministro Alexandre de Moraes e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Como réus, eles podem optar pelo silêncio durante as perguntas da PGR e da equipe do ministro. O caso segue em ritmo intenso, com possíveis desdobramentos para a segurança das instituições.