Três mulheres próximas a aliados políticos e à família do deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB), presidente da Câmara dos Deputados, aparecem em uma situação polêmica: acumulam cargos no gabinete do parlamentar, recebem salários gordos, mas não trabalham presencialmente em Brasília. São pagamentos que, só em 2025, ultrapassam R$ 112 mil, incluindo salários, gratificações e benefícios.

O jornal Folha de São Paulo investigou o caso, cruzando dados das redes sociais das servidoras, documentos públicos e acompanhando sua rotina. Elas se recusaram a detalhar suas atividades no gabinete. Gabriela Pagidis, fisioterapeuta que atua em clínicas no Distrito Federal, é filha da ex-chefe de gabinete de Motta, tem salário mensal de R$ 13,3 mil e aparece postando fotos durante o expediente. Já Louise Lacerda, que estudou medicina em tempo integral em João Pessoa, recebe quase R$ 4.600 desde 2018 sem comprovar qualquer trabalho em Brasília. A terceira, Monique Magno, conciliaria o trabalho no Congresso com seu cargo na Prefeitura de João Pessoa, com jornada impossível de 14 horas diárias, e nega irregularidades.

Além delas, outra servidora ligada ao deputado, Maria do Carmo Brito, que é ex-sogra do pai de uma das funcionárias, também consta com remuneração no gabinete, somando R$ 4.700 mensais, apesar de alegar não ter emprego numa ação judicial. A assessoria de Hugo Motta defende que os funcionários cumprem suas funções, mesmo à distância, e não há exigência de registro de ponto na Câmara, recusando divulgar detalhes das atividades.

O episódio ganha contornos de possível prática de “funcionário fantasma”, prática proibida pela Câmara dos Deputados, que exige dedicação compatível às funções e proíbe acumulo de cargos públicos. O caso lança dúvidas sobre a transparência e o uso dos recursos públicos no gabinete do presidente da Câmara da Paraíba.